E quando a jornada não é importante? (“Frieren e a Jornada para o Além” volumes #01 e #02)

Eu já tinha ouvido e lido comentários na internet sobre essa obra antes de comprar, e sabia que “Frieren e a Jornada…” não era um simples mangá de aventura e fantasia. Mas eu realmente não sabia o que me aguardava até efetivamente ler estes dois primeiros volumes, e confesso que estou com sentimentos diversos a respeito do que li.

Não consigo começar esse texto de outra forma sem ser dizendo que claramente a intenção dos autores não é (ou ao menos não parece ser) na narrativa principal, apesar de ela existir. Após uma jornada heróica vitoriosa, um grupo de heróis torna a se encontrar no funeral do líder da equipe. E isso deixa Frieren, uma maga elfa, bastante impactada, já que 50 ou 100 anos é um período de tempo irrelevante em comparação à longevidade da vida dos elfos. Ou seja, para ela, Himmel, o herói, parece ter morrido cedo demais. A minha expectativa aqui era que a obra girasse em torno da jornada heróica dos grandes heróis reunidos pela morte do seu amigo. Porém, é a forma como a vida e o tempo se relacionam que os autores parecem estar mais interessados em discutir durante o mangá.

Eu preciso dizer que essa discussão e os vários temas e metáforas são bem interessantes e intrigantes. Enquanto lia o mangá, fui me perguntando coisas do tipo “O que eu faria da vida se eu tivesse tempo suficiente para fazer qualquer coisa?”, e isso é interessante nesse contexto atual em que pensamos duas vezes antes de embarcar em um curso de 4 anos ou em uma carreira nova, por exemplo. Além disso, a forma como encaramos a morte, o significado de relações interpessoais e até mesmo o limite entre a tolerância e a intolerância são outros temas bem presentes nesses dois primeiros volumes.

O maior problema deste mangá pra mim é que ele se desenrola em um ritmo absolutamente monótono. Frieren tem uma expressão neutra a maior parte do tempo, e nós vamos entendendo que isso não é uma falta de personalidade da personagem, mas o contrário, é uma personalidade planejada. Aqui a questão do tempo entra mais uma vez, pois um evento que acontece uma vez a cada meio século e fascina os humanos pela sua raridade é como uma “terça-feira padrão” para uma personagem capaz de viver por milênios, e esse é o tipo de coisa que parece moldar o temperamento da elfa. Só que esse tom contagia todo o ritmo do mangá. A escolha das cenas, as expressões físicas e corporais dos personagens, tudo é excessivamente morno. Talvez os diálogos sejam a pior parte nesse sentido, sendo quase sempre frases curtas e afirmativas, tornando as conversas sempre truncadas e quase desconexas.

Dessa forma, vai ser difícil eu continuar a leitura deste mangá, e isso me incomoda, porque eu sinto que há um grande potencial nele que eu ainda não descobri, inclusive considerando que na data de publicação deste texto já são 9 volumes lançados. Mas a experiência que ele oferece é cansativa, entediante e sem nenhum sentido claro. Ou será que essa é uma outra metáfora para a vida?

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